sábado, 2 de janeiro de 2016

Niš - A cidade do imperador


Vestígios turcos em Niš

O imperador Constantino é a personagem mais notável nascida na cidade de Niš, hoje uma cidade importante do sul da Sérvia, na altura uma região central do Império Romano.
É interessante percebermos que os Balcãs, na época imperial, estavam no centro do império, perto da Itália, de tal forma que hoje há uma Rota dos Imperadores, que liga vários pontos de interesse histórico com eles relacionados.


Estátua comemorativa do Édito de Milão

Em Niš, já não sobra nada do imperador Constantino, a não ser a memória. Em 2013, comemoraram-se os 1700 anos do Édito de Milão, em que Constantino permite a liberdade de culto aos cristãos dentro do Império Romano, e esse importante acontecimento foi comemorado na sua terra natal com pompa e circunstância. Foi construída uma catedral dedicada a Constantino e a sua mãe, Santa Helena, e foi erigida uma interessante estátua junto ao rio Nišava.


Catedral de Constantino e Santa Helena

Nesta região, sobrepõem-se memórias. A mais forte é, sem dúvida, a dos tempos dos turcos otomanos. Em Niš, erguia-se uma imponente fortaleza turca. 

Entrada da fortaleza turca

Hoje, as suas muralhas, ainda bem conservadas, abrigam um parque e uma agradável zona de esplanadas, assim como um espaço para concertos ao ar livre. 


Esplanadas dentro da fortaleza

Na parte mais antiga da cidade, a rua central do bairro turco continua a ser a zona mais animada. Há restaurantes e bares, alguns dos quais recriam os espaços muçulmanos da época otomana. É aí que paramos para jantar, uns belos petiscos à maneira sérvia.


No bairro turco

Mas há também memórias sombrias desse tempo. No século XIX, os sérvios tentavam conquistar a cidade aos turcos, mas foram derrotados. A vingança foi cruel. As cabeças dos sérvios mortos na batalha foram cortadas e encastoadas numa torre, para servirem de exemplo. O escritor francês Lamartine foi o primeiro a descrever a torre e a dar testemunho desse massacre na Europa Ocidental. Calculo o susto de Lamartine, quando se abrigou do sol junto a uma torre que lhe parecia brilhar de mármores e madrepérolas e descobriu que, afinal, eram centenas de caveiras descarnadas!
A torre ainda lá está, preservada dentro de uma capela que é, ao mesmo tempo, um espaço museológico e de memória.


A capela que abriga a Torre das Caveiras
(dentro não se pode fotografar)

Outra memória cruel ainda presente na cidade é a do domínio nazi. Em 1941, os nazis invadem e ocupam a então chamada Jugoslávia. Quando ocupam Niš, transformam umas antigas instalações militares num campo de trânsito e concentração. Dão-lhe o nome da estação de caminhos de ferro próxima e assim surge o campo de concentração Cruz Vermelha. Os primeiros a serem detidos são os líderes da cidade, políticos, padres, professores, maçons... É mais fácil dominar uma população quando lhe são retiradas as referências...


O pátio do Campo de Concentração Cruz Vermelha

Este campo de concentração é muito chocante. Somos imediatamente transportados para aquela realidade triste e sombria. Quando se visita Dachau ou Auschewitz, por exemplo, encontramos todo o horror do universo concentracionário nazi, mas o espaço está limpo, organizado de forma informativa, o que nos permite ganhar algum distanciamento. Aqui em Niš não se consegue manter essa distância. O campo está exatamente como era. As camaratas de paredes escuras, com o chão coberto de palha, onde os prisioneiros eram amontoados.


Dentro da camarata

O terreiro da chamada, rodeado por um muro com dezenas de postos para as metralhadoras. Os edifícios da cozinha e das instalações dos oficiais, com as suas desbotadas inscrições em alemão. Tudo tem um ar cinzento e abandonado, que o torna ainda mais sombrio.


O edifício dos guardas (hoje, a portaria)

Alguns cartazes mostram-nos o temível chefe do campo, assim como a história da única fuga bem sucedida.


Um cartaz conta a história da fuga de 12 de fevereiro de 1942

Há apenas um memorial, já fora dos portões de acesso, erigido pela União Soviética em memória dos soldados do Exército Vermelho, os últimos a serem ali aprisionados.


Memorial aos soldados do Exército Vermelho

Ainda subimos ao topo da colina de Bubanj, onde os nazis fizeram alguns dos seus assassinatos em massa. Hoje é um espaço arborizado, coroado por um conjunto impressionante de três punhos, em tamanho gigante, que evoca a resistência ao nazismo.


A colina de Bubanj

Niš concilia bem todas estas memórias, prazenteiras ou sombrias. Hoje é uma cidade agradável, de avenidas largas e parques agradáveis. Onde ficamos com vontade de regressar...



Parques onde apetece passear

Sem comentários:

Enviar um comentário