quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

De mota pelos Alpes IV – Do Lago Leman às passagens alpinas


Um banco sobre o lago

O dia começou com a reparação do percalço do dia anterior, isto é, houve que procurar o concessionário da Honda para substituir a lâmpada fundida. Com isto, novo atraso à saída do hotel, que até acabou por dar jeito, já que aguentámos a chuvada matinal debaixo de telha! Pior do que nós estava um casal de ciclistas belgas, em viagem de regresso a casa, que lá foram pedalando, debaixo de chuva.
Passámos ao lado de Genève, na direção do Lago Leman. Viajando de mota, não perdemos tempo com cidades grandes. Essas são para explorar durante mais tempo, pelo menos dois dias e são para outro tipo de viagem. Aqui no blogue, há vários posts sobre Genève, uma cidade muito especial, que alia a centralidade turística e económica ao cosmopolitismo gerado pelas organizações internacionais que aí têm a sua sede.


O Castelo de Rolle...

...sobre o lago Leman

Quanto a nós, seguimos pela margem norte do Lago Leman. Primeira paragem no Castelo de Rolle, para olhar o lago. Tudo é tranquilidade, beleza e requinte, desde os canteiros de flores à decoração das lojas. O castelo data do século XIII, com uma reconstrução do século XVI, depois de ter sido queimado e destruído pelas tropas do cantão de Berna. Hoje, está impecavelmente recuperado e é um oásis de paz junto às águas.
Nós voamos ao lado do Lago Leman, entre vinhedos imensos e belas vivendas viradas para o lago. No Castelo de Wufflens, nova paragem, para observar aquele que é considerado o mais belo castelo de inspiração gótica da Suiça e, com Chillon, um dos mais importantes monumentos da região de Vaud.


O Castelo de Wufflens

As casas de apoio ao castelo

O Castelo é surpreendente: é uma propriedade particular por isso não pudemos visitar os interiores, mas pudemos ver as antigas cavalariças e casas de apoio. Quem serão os seus habitantes? Todo o espaço é um regalo para os olhos e tenho a sensação de andar dentro de um livro de belas gravuras antigas. Mas saltamos rapidamente do século XV para a atualidade: o road-book tinha ficado um bocadinho danificado pela chuvada matinal e a pausa foi aproveitada para o secar… no motor da mota!


Secando o road-book, no motor da mota...
Almoçámos numa esplanada à beira do Lago, em Vevey, nós e os pardalitos que vieram às migalhas. Vevey foi o local que Charlie Chaplin escolheu para passar os seus últimos anos de vida e ali, junto à tranquilidade do lago, compreende-se bem porquê! No lago, os patos e os cisnes também disputam as migalhas…


Vevey, à beira do lago
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O Museu da Câmara Fotográfica
Nunca resistimos a isto...

Há muitas outras paragens interessantes em Vevey, como o Museu da Câmara Fotográfica, L'oeil de la Photographie.
Viramos as costas ao lago e paramos em Gruyères, a terra que deu o nome ao queijo. É uma cidadezinha encantadora, embora muito turística, cheia de lojas de souvenirs e de gente que passeia, como nós. Encanto-me com o castelo condal, com as janelas floridas, com as tabuletas das lojas, com a entrada fortificada ao fundo da praça. Tem uma beleza de bilhete postal. Mas esconde outras coisas igualmente fascinantes, como o museu que alberga a fantástica obra de H. R. Giger, o criador do Alien.


A bela Gruyères

...com as suas tabuletas requintadas


...circundada pelas montanhas


A vista do Castelo de Gruyères

Seguimos viagem. Atravessamos aldeias encantadoras e bordejamos lagos muito azuis. Passamos cidades como Thun e Interlaken, mas só fazemos pequenas paragens.
Ainda falta uma subida à montanha, a passagem de Sustenpass, a 2 264 metros. Cai a noite e cai também uma chuvinha miúda. Vamos subindo, curva após curva, com os faróis das motas a iluminarem a estrada deserta e a noite cada vez mais escura. Lá em cima, há neve, frio e glaciares. Mas a chuva parou e os glaciares brilham ao luar, numa paisagem um pouco fantasmagórica. A subida noturna ao Sustenpass foi, para mim, uma experiência assustadora e uma revelação dos meus próprios medos. A sensação de isolamento e vulnerabilidade, aliada à grandiosidade da natureza que nos rodeava, tornou-se esmagadora. E foi com um grande alívio que cheguei ao nosso belo hotel de montanha, o Alte Post, em Wassen.

Lá em cima, há neve, frio e glaciares

Depois de vários dias a ouvirmos dizer que já era tarde, que era difícil comermos alguma coisa, que a cozinha já tinha fechado, fomos aqui recebidos com hospitalidade. A dona do hotel prontificou-se a preparar uma refeição (salsichas com batatas fritas e salada mista) que nos soube deliciosamente. No hotel estavam também hospedados uns motociclistas ingleses, tão loucos como nós, que também andavam a passear pelos Alpes. Ainda estivemos a comparar rotas e percursos. A sala de jantar era quente e acolhedora, a cerveja era boa, o quarto era mimoso. O dia terminou tranquilo e apaziguado.

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