quarta-feira, 13 de maio de 2015

O Cromeleque dos Almendres


O Cromeleque dos Almendres
Fica perto de Évora, na freguesia de Nossa Senhora de Guadalupe. É fácil passar na estrada e não reparar no sinal que indica a cortada para o cromeleque. Depois, é só avançar com atenção, por entre pequenas aldeias e terrenos de cultivo. O final do caminho faz-se a pé e encontram-se então alguns cartazes de interpretação do que se vai encontrar.
De que se trata, então? O cromeleque dos Almendres é um conjunto de monólitos (pedras), organizado em círculos concêntricos. Formado por pedras de origem diferente, algumas de grandes dimensões, outras mais pequenas, tinha seguramente uma função socio-religiosa muito importante, que não conhecemos bem já que estamos a falar de uma sociedade agrária, que não conhecia a escrita.
Algumas pedras têm uma forma fálica, outras lembram paralelipípedos ou grandes ovos. Dez destes monólitos têm gravuras, ou relevos, alguns bem estranhos, como conjuntos de covinhas. Uma gravura parece uma face, com boca, nariz e olhos.

As pessoas dão uma ideia do tamanho das pedras

Os círculos ocupam um terreno bastante extenso, numa encosta que desce com suavidade em direção a nascente, isto é, ao ponto em que nasce o sol. Olhando nessa direção, pode-se vislumbrar o grande menir dos Almendres, que teria também um papel nas cerimónias que ali se desenrolavam, e que só podemos imaginar. E não é difícil sermos levados pela imaginação, quando deambulamos por entre aquelas pedras milenares.

O menir dos Almendres

O cromeleque terá sido edificado no final do sexto milénio a.C. e, depois de algumas transformações, terá sido abandonado no terceiro milénio a.C., acompanhando as transformações económicas e religiosas da época.
E tudo isto me suscita uma enorme questão: será o cromeleque dos Almendres o património edificado mais antigo da Europa? Integrando-se claramente na cultura megalítica atlântica, que também produziu os círculos de pedra da Grã-Bretanha e os alinhamentos de pedra do noroeste francês, é, no entanto, bem mais antigo do que qualquer dos seus congéneres. Bem anterior a Carnac e a Stonehenge, construídos no terceiro milénio a.C., anterior até às próprias Pirâmides. 

Outra perspetiva do cromeleque

Como é que Portugal não explora esta enorme vantagem? Lembro-me de visitar Stonehenge, ter de pagar uma entrada para um recinto bem delimitado e preservado. O turismo é organizado, há um centro de interpretação. Pelo contrário, aqui nos Almendres o acesso é livre. Não há nenhum equipamento de apoio ao turismo, como um bar ou uma casa de banho. Isto nota-se: há vestígios de piqueniques no meio das pedras, assim como de cerimónias esotéricas atuais, com fogueiras, por exemplo. Ninguém vigia o espaço, também ninguém evidencia a sua importância ou retira dali algum proveito turístico. 

A Anta Grande do Zambujeiro

Todo o Alentejo é de uma enorme riqueza megalítica e arqueológica. Perto do recinto dos Almendres, situa-se a Anta Grande da Zambujeira. Destaca-se entre as muitas antas que se encontram no nosso país, pela sua enorme altura, que lhe valeu o epíteto de Catedral da Zambujeira. Agora, tem a entrada fechada, mas pode-se rodear e também ninguém vigia ou organiza os visitantes. Não há explicações nem qualquer equipamento de apoio. Isso pode explicar, embora não possa desculpar, os nomes gravados na própria pedra, nessa manifestação de falta de civismo e educação infelizmente tão comum.

O espaçoso interior da anta

Sei que o cromeleque dos Almendres é classificado como Imóvel de Interesse Público e que há uma proposta para a sua elevação a Monumento Nacional. Não percebo porque é que ainda não o é, quando devia ser Património da Humanidade. Não compreendo também o evidente pouco cuidado com que está tratado, assim como o facto de não se falar sobre isto. É um daqueles casos de um silêncio que fala por si mesmo.

As enormes pedras, comparadas com o tamanho do homem

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