segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Cracóvia Judaica - Nos passos de Schindler


Memorial aos judeus de Cracóvia, no centro do bairro de Kazimierz

Na Cracóvia dos anos 30, viviam cerca de 55 mil judeus. Era uma comunidade pujante, numerosa e próspera. Viviam maioritariamente no velho bairro de Kazimierz, fundado pelo rei polaco Casimiro I no séc. XIV para alojar os judeus da cidade. No bairro havia sete sinagogas, escolas e escritórios, armazéns, uma associação desportiva.Aí se situava também o cemitério judaico, junto à velha sinagoga Remuh.


Entrada da sinagoga Remuh


Lápides no antigo cemitério judaico

Hoje, sobram duzentos judeus na cidade, se tanto! O filme "A lista de Schindler", de Spielberg, sobejamente conhecido, mostra-nos esse processo gradual de exclusão, perseguição e morte. Fomos explorar a cidade e os arredores, procurando seguir os passos de Schindler e dos judeus da sua lista.


A sinagoga Temple, ainda em funcionamento



O interior da sinagoga Temple
Começamos pelo bairro judeu. Já mencionei que aí existiam sete sinagogas. Dessas, duas continuam a funcionar como locais de culto, por isso, tivemos de esperar pelo final do "shabat" para as podermos visitar. Das outras, a sinagoga Stara é a maior. Situada no coração do bairro, na Rua Szeroka (Rua Larga), funciona hoje como um espaço museológico, que dá a conhecer as tradições e os rituais do Judaísmo. Das festas de iniciação aos casamentos, aí encontramos objetos, vestuários, fotos e descrições que nos ajudam a perceber a vida da comunidade judaica.


O interior da sinagoga Stara

Ali perto, o moderno Museu dos Judeus da Galícia mostra-nos a história das comunidades de judeus da região sul da Polónia, a Galícia. Era nesta região que se concentravam cerca de 70% dos judeus europeus. Tradicionalmente tolerante, fora acolhendo, ao longo do tempo, comunidades expulsas de outras zonas da Europa de Leste. As fotografias seguem o seu percurso, desde as alegres reuniões familiares aos campos de extermínio.

Entrada do Museu dos Judeus da Galícia


Foto escolar, antes da guerra

Com a invasão e ocupação nazi da Polónia, dá-se a ruína desta cultura. Quem já viu o filme "A lista de Schindler" não esquece a história. Agora, vamos ver os lugares onde os acontecimentos aí retratados se deram.

Um troço do muro que rodeava o gueto

O gueto de Cracóvia fica a sul do rio que banha a cidade, o Vístula. Situa-se junto à zona industrial, o que era conveniente, já que os nazis se apoderaram das fábricas e utilizavam os habitantes do gueto como mão de obra forçada e gratuita. Hoje, resta apenas um troço do muro que delimitava o gueto, mas as fotografias da época permitem-nos reconhecer ruas e prédios, assim como a ponte de ferro por onde os judeus são levados. Na praça central, onde se faziam as chamadas e concentrações, alinham-se hoje cadeiras vazias, numa alusão à ausência e à deportação dos que ali foram reunidos.


As cadeiras vazias dos que daqui foram deportados

Ainda dentro do gueto, pode-se visitar a antiga Farmácia Águia, pertencente ao farmacêutico polaco Tadeusz Pankiewicz, único não-judeu a quem foi permitida a permanência dentro do gueto. Durante o tempo da ocupação, a farmácia serviu como local de reunião e de passagem de informações e comida entre o interior e o exterior do gueto.

Interior da farmácia Aguia, hoje um pequeno museu.

Perto dali, encontra-se a fábrica que o nazi Oskar Schindler ocupou. Atualmente, está dividida em dois espaços: num, funciona o Museu de Arte Contemporânea de Cracóvia; no outro, o Museu da Ocupação Nazi. É este que agora nos interessa. 


O portão de entrada da fábrica (ainda o original)

O Museu é muito interessante, porque nos faz percorrer um caminho onde, através de documentos e depoimentos diversos, nos é contada toda a história. Ouvem-se as sirenes de aviso dos bombardeamentos. Entramos nas casas sobrelotadas do gueto. Acompanhamos as deportações. Visitamos o escritório de Schindler e percebemos o esforço para salvar os "seus judeus". E lá estão expostas, também, as fotos dos que faziam parte da famosa lista e graças a ela se salvaram.


Footografia da entrada do gueto, onde se vê um troço do muro, que ainda resta



Parte das fotografias dos que foram salvos por Schindler

Os que viram o filme, recordam-se com certeza da relação que se estabelece com o chefe do Campo de Concentração próximo, o demente Amon Goth. Esse campo, Plaszow, é visitável. 


Entrada do Campo de Plaszow

Hoje, já pouco resta, apenas campo aberto onde antes se situavam os barracões dos prisioneiros. Pode-se, no entanto, encontrar a casa onde o diretor do campo vivia, com a sua macabra varanda, assim como a casa cinzenta das SS. Os memoriais não nos deixam esquecer o sofrimento dos que ali passaram.



Pequeno memorial na colina onde se faziam as execuções


O grande memorial Corações Rasgados

A grande maioria dos judeus de Cracóvia acabou em Auschewitz. O enorme complexo de trabalho escravo, extorção e extermínio fica a cerca de 60 quilómetros e há muitas visitas organizadas. Pela dimensão desta verdadeira "indústria da morte", a descrição de Auschewitz extravasa os objetivos deste pequeno roteiro, mas é um lugar de peregrinação, acima de tudo. É preciso ir lá para perceber até onde pode ir o desprezo pela condição humana. E para não permitir que se repita.


Entrada do Campo de Concentração de Auschewitz

Hoje, a Rua Szeroka continua a ser o coração do bairro judeu de Cracóvia. Os polacos tentam recuperar e honrar as tradições judaicas, que também são parte da sua própria cultura e da sua história. O bairro de Kazimierz está cheio de bares e restaurantes judaicos. Há muitos jovens e turistas sentados em esplanadas nas velhas ruas que Spielberg filmou. 


Esplanadas no velho bairro judeu

Há concertos de música klezmer e exposições variadas. O velho bairro fervilha de vida. Provavelmente, é a melhor forma de honrar os judeus que ali tanto sofreram e que a barbárie nazi tentou apagar da face da terra.



Restaurante judaico na rua Szeroka

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