sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

De mota pelos Alpes V – No país da Heidi

O nosso hotel em Wassen

Saímos logo pela manhã do nosso belo hotel de madeira escura com sardinheiras nas janelas. Dei uma voltinha pelas redondezas e percebi facilmente a razão de tudo parecer sempre tão bonito e perfeito: viam-se várias pessoas às janelas, retirando cuidadosamente as florinhas secas das frondosas sardinheiras! Mesmo em frente do hotel havia um fontanário e três homens tinham retirado e esfregavam vigorosamente as grades de metal que se apoiavam no fundo da fonte. Assim se consegue este aspeto sempre impecável! Um dos homens ainda nos tirou uma fotografia junto da fonte e seguimos viagem.

A foto de grupo, junto ao fontanário

A primeira paragem é na famosa Teufelsbrücke, a Ponte do Diabo. É um estranho e intrincado cruzamento de pontes, no cantão de Uri: a ponte ferroviária, a nova ponte rodoviária e a velha ponte de pedra, que veio substituir a ponte ainda mais antiga, construída pelo diabo a troco da alma do primeiro que ali passasse. Já fiz aqui um post sobre este local, por isso não me vou alongar, mas dizer apenas que é um local estranho e fascinante, cheio de histórias.

A misteriosa Teufelbrücke

Seguimos para Andermatt, onde abastecemos com a gasolina mais cara da viagem, ainda mais cara do que em Portugal! Hoje, talvez Portugal já tenha ultrapassado essa fasquia!
Paramos para visitar o Mosteiro Beneditino de Disentis. É um belo mosteiro, ainda gerido pelos monges, numa vila tranquila. Foi fundado no século VIII, mas dessa primeira edificação já pouco resta. Houve entretanto uma grande remodelação, que hoje revela uma belíssima igreja barroca.


O belo interior barroco do Mosteiro de Disentis


O orgão do Mosteiro Beneditino de Disentis

A partir daqui, decidimos sair das estradas principais para sentir bem o ambiente das aldeias alpinas. Estamos na Suiça profunda, as casas são de madeira e as paragens de autocarro estão assinaladas por montículos de pedras. Numa dessas aldeias, Mainfeld, inspirou-se a criadora da Heidi, mas chuviscava e não tivemos coragem de ir procurar a casa da miúda…

À descoberta das aldeias alpinas

...com as suas casinhas de madeira...

... e as mais mimosas paragens de autocarro!

O almoço foi em Chur. É uma pequena cidade, muito agradável, com um centro histórico bonito, à entrada do vale do Reno. Escolhemos para almoçar a esplanada de uma pizzaria que ostentava à entrada, orgulhosamente, um diploma atribuído ao chef, um cozinheiro português! Afinal, estamos na Suiça, uma das regiões da diáspora portuguesa! Em algumas comunidades deste cantão de Grisões, a terceira língua é mesmo o português, depois do romanche e do alemão.

A entrada para o centro histórico de Chur

A pizzaria com o chef português premiado

Fontanário com a cabra-montês, símbolo da região

Durante a tarde, ainda houve tempo para uma paragem em Davos. Estância turística muito diferenciada, tal como a sua vizinha Klosters, é principalmente conhecida por ser a sede do World Economic Forum, where the world leaders meet, uma vez por ano. Por isso, nós também não podíamos falhar a visita!



Davos, por qualquer razão que não percebemos, estava cheia de judeus ortodoxos, grandes famílias, com as suas indumentárias características. Seria um encontro internacional de rabinos, ou coisa parecida?
No meio daquele ambiente tão cosmopolita, o que mais gostei em Davos foi uma instalação no lago de um jardim. Não guardei o nome do autor, mas guardei na alma a aparição quase fantasmagórica daquelas figuras humanas, de chapéu-de-chuva aberto, pairando sobre o lago como se caminhassem sem destino.

Figuras deambulam no lago, sob os seus chapéus-de-chuva


Ultrapassado mais um passo alpino, o Flüela Pass, acima dos 2 300 metros, a chegada a Zernez foi mais cedo do que o habitual. O Hotel Spöl é mimoso, um hotel de montanha numa pequena vila. Ali não há desportos de inverno, mas há caça grossa, como veados, que está na base da decoração do hotel.
Foi muito interessante o contacto com os portugueses que ali trabalhavam: a Liliana, que veio a correr quando viu que eram duas motas portuguesas que estavam a estacionar, e o João, empregado no nosso hotel, com quem conversamos bastante durante o jantar. Comemos um prato tradicional da região,“capuns”, rolinhos feitos com acelga ou alface e recheados com carne e, no final, o João ofereceu-nos um licor, feito a partir de uma planta que só existe nos cumes alpinos, chamada “eve” (provavelmente não se escreve assim, mas não importa!). Afinal, as viagens também se fazem destas descobertas e reconhecimentos.

Uma hospedaria, no cume do Flüela Pass

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