sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Cervantes e cegonhas em Alcalá de Henares


Alcalá de Henares, Património da Humanidade

Chegámos a Alcalá de Henares ao começo da tarde, essa hora mágica em que, como em qualquer cidade do centro-sul de Espanha, não se vê vivalma na rua. O calor resguarda as pessoas. E a cidade aparece, nua de ruídos e de modernidade, a quem vai cruzando as ruas desertas. Assim vamos passando por igrejas e colégios, capelas e dependências da muito antiga e prestigiada Universidade de Alcalá de Henares. E assim, na cidade vazia, sinto-me mais perto do tempo de Cervantes.


Cervantes, na praça com o seu nome

Quis ir a Alcalá de Henares neste ano em que se cumprem quatrocentos anos da morte de Cervantes, embora não tenha muito tempo para aproveitar as iniciativas. Mas dá para apreciar o ambiente.
Alcalá de Henares foi uma boa surpresa. Tão perto de Madrid e tão longe do turismo de massas! O que vemos são as pessoas da cidade, que povoam as ruas e os bares quando o calor abranda, que convivem, bebem e conversam nas praças e nas esplanadas. 

Campanário da Catedral Magistral dos Santos Justo e Pastor, visto do Huerto de los Leones

O centro histórico de Alcalá leva-nos para o século XVI, o siglo de oro. Aqui, Isabel de Castela encontrou-se com Cristovão Colombo, antes da sua partida para o oceano desconhecido, em busca de um novo mundo. 


Palácio Episcopal, onde Isabel de Castela se encontrou com Colombo

Aqui estudaram e ensinaram muitos dos intelectuais que marcaram a cultura espanhola e europeia, na famosa Universidade, fundada em 1499. Mas, acima de todos, esta é a terra natal de Miguel de Cervantes Saavedra e, neste ano em que se comemoram quatro centenários da sua morte, toda a cidade respira a sua memória. Na praça com o seu nome e a sua estátua, há faixas comemorativas. Há grafitis e citações em muitas paredes. 


Plaza de Cervantes com as suas faixas...

...e grafitis na Plaza de los Santos Niños


E a casa onde nasceu, e onde continua através das suas personagens imortais, Dom Quixote e Sancho Pança, desenvolve várias atividades que tenho pena de não poder acompanhar.


Dom Quixote e Sancho Pança, junto à casa natal de Cervantes

A cidade, Património da Humanidade, é também chamada Cidade das Três Culturas devido ao cruzamento das culturas cristã, muçulmana e judaica. Aí coexistiram, influenciando-se mutuamente, populações dos três cultos. E a cidade presta também homenagem a essas raízes culturais.



























Relembro Cervantes, mas a cidade não está obcecada pela comemoração. E os turistas repartem a sua atenção pelos desenhos de Dom Quixote e pelas atrevidas cegonhas que ocupam os telhados das igrejas e colégios universitários. Aqui, as cegonhas têm até direito a um roteiro turístico, que nos permite percorrer o centro da cidade de nariz no ar, observando os telhados, de onde elas nos observam também, indiferentes à passagem do tempo cá em baixo!


As cegonhas, sempre...

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